segunda-feira, 5 de abril de 2010

Capítulo 3 - Pequenas Porções de Ilusão

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Pequenas Poções de Ilusão 

À princípio, Marcela Albuquerque de Moraes era o que normalmente se chama de rebelde sem causa. Os pais preferiam dizer ovelha negra. 

E Marcela adorava... Orgulhava-se mesmo... De ambas as definições.

Filha única de uma família de classe média alta, acostumada a ter tudo o que quisesse, e a fazer o que bem entendesse, se recusava propositalmente a fazer parte do “discreto charme da burguesia”.

Não era à toa que era fã incondicional de Cazuza.

De tanto esfregar na cara dos pais uma diversidade de ficantes, amantes e namoradas, tinha conquistado o direito de ter seu próprio apartamento. E uma moto, um carro, uma mesada bem abonada e cartões de crédito em troca de cursar direito na UERJ.

A vida de Marcela seria perfeita se... Não fosse o fato de estar louca e completamente apaixonada por Gisele.

A loira monumental de 38 anos, incrivelmente sexy que só a fazia sofrer, porque... Além de ser casada com uma mulher que a sustentava, Gisele estava longe de corresponder.

Usava Marcela descarada e declaradamente. Jogava na cara dela que só a queria para fazer sexo. Maltratava-a, a mandava embora, desprezava terrivelmente, e depois a chamava de volta.

E quanto mais Gisele pisava, mais Marcela obedecia correndo.

Claro que estar apaixonada não impedia que Marcela se divertisse. Dormia com outras mulheres, apesar de sempre ficar com certa ressaca moral depois.

Afinal de contas, não tinha espaço para mais ninguém no coração. Gisele era dona dele inteiro...

Por isso mesmo Marcela ficou deitada na cama ao lado de Vivi, achando que tinha acabado de fazer uma burrada gigantesca.

Verdade que a primeira vez que tinha visto Vivi, na xerox da faculdade, tinha sido simpática apenas por causa da aparência dela. Tinha achado Vivi linda. Muito gata mesmo.

O fato da ruiva ser hetero não era problema. Marcela estava cansada de servir de experiência, de matar a curiosidade sexual de várias heteros.

Mas era diferente com Vivi. Ela era especial. Eram amigas. E não queria perder a amizade dela.

Tinha percebido que Vivi estava diferente no momento em que a ruiva chegou na festa. Porém, havia pensado que era porque tinha acabado de terminar com o namorado.

Guilherme tinha implorado para Marcela interceder por ele. E na hora em que estavam conversando, viu Vivi olhando com uma cara abobada na direção dele. Por isso e só por isso os apresentou, saiu fora e ficou observando se a própria atuação como cupido tinha dado certo.

Foi quando o celular tocou. Era Gisele. Dizendo que não ia aparecer e cancelando o encontro que tinham marcado no dia seguinte. Porque ia viajar com a esposa.

Marcela ficou louca de raiva, com ciúmes, possessa... Para ela acabou ali a festa. Foi para o quarto e se deitou.

E logo depois, Vivi apareceu.

A presença de Vivi, a forma como ela tinha trancado a porta, dado o bolo para ela na boca e a olhado com os maravilhosos olhos verdes cintilando depois... Tinha mexido com Marcela.

Mais do que mexido. O desespero com que Vivi se entregou, e a urgência com que a devorou depois... Deixaram Marcela fora de controle. Não que depois de fumar um baseado inteiro sozinha, e frente a uma garota bonita se oferecendo fosse difícil perdê-lo...

A verdadeira surpresa tinha sido a atuação da ruiva. Apesar de não ter experiência com mulheres, sem dúvida Vivi tinha um talento natural para a coisa...

Marcela afastou o último pensamento, se sentindo culpada de novo. Nada justificava ter perdido completamente a cabeça daquele jeito. Não sabia nem como ia conseguiu olhar para Vivi de novo...

***

Vivi se atirou na cama ao lado de Marcela. A cabeça rodando... Não por causa da bebida. Um sentimento inexplicável a confundia.

Marcela estava perceptivelmente muda, evitando fitá-la. Passou a mão pelos cabelos negros, tirando-os do rosto, a pulseira de couro um elemento a mais do charme dela...
 

"Como se precisasse..." – Vivi não teve como evitar o pensamento, nem a conclusão que veio: "Como se não fosse irresistível de qualquer jeito..."

Sem ter coragem de encarar Vivi, Marcela mudou o CD apontando o controle remoto sem olhar para o som. De Metallica para Barão Vermelho...

A voz inconfundível de Cazuza entrou rasgando:

“Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa...”

(Maior Abandonado – Frejat / Cazuza)

Antes de Marcela finalmente falar, ainda com os olhos negros grudados no teto:

- Olha só... Vivi, eu... Não quero que você fique chateada nem que mude comigo por causa do que aconteceu... Eu... Nós somos amigas, e eu não... Eu não devia ter... Me desculpa... Eu... Eu sinto muito... Mesmo.

Não acreditou no que estava ouvindo. Marcela estava realmente se desculpando depois de ter dado a Vivi a experiência mais incrível que já tinha tido?

As emoções rodopiaram, se misturaram à letra que insistentemente repetia:

“Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam...”


Marcela não entendeu nada. Até se assustou com a reação dela: Vivi caiu na gargalhada. Depois respondeu:

- Assim parece que você me atacou, ou algo parecido. Não foi bem o que aconteceu. - "Quem dera... "- foi o que Vivi pensou, mas obviamente, não falou. - vendo a cara perplexa de Marcela, continuou: - Tá tudo bem, Marcela... Fica fria.

Mas Marcela continuava preocupada com ela:

- Mas você... Você nunca tinha...

“Mentiras sinceras me interessam
Me interessam...”


- Nada demais. Pra tudo tem uma primeira vez, né? - Vivi respondeu rapidamente. Querendo fazer parecer que tinha sido uma coisa sem importância. E rezando para que Marcela mudasse logo de assunto.

Em vão:

- E aí? O que você achou?

Essa era a Marcela que Vivi conhecia. Nada convencional. Sem noção, a maioria das pessoas diria.

- Tá querendo elogios?

Esse foi o único jeito que Vivi encontrou para devolver a pergunta absolutamente descabida.

Marcela ficou totalmente sem jeito. E entendeu que havia passado dos limites.
Por instantes apenas. Porque logo percebeu que Vivi estava de novo rindo.

Pegou um dos travesseiros e atirou na cara da ruiva... Que jogou o travesseiro de volta nela...

Marcela então a segurou pelos pulsos, prendendo os braços de Vivi contra a cama, acima da cabeça dela, imobilizando-a...

“Teu corpo com amor ou não
Raspas e restos me interessam...”


O riso morrendo na garganta das duas quando os olhares finalmente se encontraram, revelando o quanto a brincadeira havia voltado a ficar séria.

Os olhos de esmeralda de Vivi hipnotizando Marcela com seu brilho intenso... As bocas se aproximando quase que naturalmente...

Foi quando o celular de Marcela tocou. Quebrando o clima por completo.
Mais ainda quando Marcela atendeu e viu que era... Gisele.

- Oi Gi...

Mesmo que Marcela não tivesse dito o nome, pelo tom de voz totalmente diferente, Vivi já sabia quem era.

Marcela esqueceu completamente de Vivi e de todo o resto. Continuou:

- Fala, meu amor... Agora? Tá, tudo bem... Tô lá em 15 minutos... Beijo nessa sua boca gostosa... Tchau...

Quando olhou novamente, Vivi já estava completamente vestida:

- Vou indo.

Marcela pediu:

- Espera só um minutinho...

“Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos me interessam
Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam”


Vestiu-se correndo, desligou o som, e acompanhou Vivi até a sala, que agora já estava bem mais vazia. Vivi ainda tentou encontrar Carlinha, mas nem sinal dela. Marcela gritou:

- O último a sair bate a porta!

E saiu quase correndo atrás de Gisele. Com Vivi caminhando silenciosamente atrás dela.



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